Corria o ano de 1890, quando chegou a informação de que o fazendeiro Ananias Bueno de Azeredo havia morrido. Contam, os familiares e os moradores mais antigos de Muzambinho, pacata cidade do Sul de Minas Gerais, que o proprietário da Fazenda Guarita tinha à época 34 anos, era pai de dois filhos com a esposa Ana Deolinda Bueno, a Sinhana, que recorreu a Nossa Senhora Aparecida, pedindo que este ressuscitasse. E o milagre foi realizado. Em agradecimento, uma Capela em homenagem à Santa foi construída.

EM BUSCA DE INFORMAÇÕES

Para voltar ao tempo, resolvemos visitar a Capela. Após a fotografia externa da igrejinha, a volta. Um quilômetro antes do local, no sentido Muzambinho, três homens trabalhavam, na segunda-feira passada, na construção de um mata-burro. Eles foram nossos primeiros informantes.

O agricultor Célio de Carvalho Maciel, 60, Antônio Lourenço de Faria, o Tonhão da Palméia, 54 anos, e Paulo Eduardo Faria, 45 anos, contaram a primeira versão da história. Segundo Célio, que tem uma propriedade perto, “ele teve urna catalepsia e foi dado como morto”. De madrugada ele teria ressuscitado.

COMO FOI

A versão da família é contada por João Batista Ribeiro, 69 anos, bisneto de Ananias Bueno. Conforme a tradição familiar, o caso ocorrido em 1890 é de conhecimento da Igreja, que anualmente celebra a missa de 12 de outubro na Capela.

MORREU?

Na data do milagre, Ananias Bueno teria sentido mal.Por alguns, foi dado como morto. Para outros, estava apenas desmaiado. A catalepsia acabou durando cerca de 12 horas, quando os funcionários da Fazenda Guarita já começaram a preparar a urna mortuária. Alguns deles haviam ido até Muzambinho para comprar o pano da mortalha A fazendeira Deolinda, esposa de Ananias, rogou o milagre à Virgem Maria.

Contam os mais antigos, que Sinhana recorreu a Nossa Senhora com medo de ficar com dois filhos sozinha.
Para isso, ela prometeu ir a pé até Aparecida do Norte (atual Aparecida), onde a imagem da Santa foi encontrada, para buscar uma imagem similar.
Escolheria um lugar alto da Fazenda onde construiria a futura capela. Mais tarde, minutos antes de ser enterrado, o fazendeiro voltou de sua “morte”, tendo assustado a todos. Alguns dos presentes correram, com medo. Outros ficaram olhando. Houve quem ajoelhasse e rezasse.

PAGANDO A PROMESSA

No ano seguinte, com uma comitiva de cavaleiros acompanhando a viagem, Deolinda, Ananias e os filhos seguiram uma longa viagem, a pé, até Aparecida. Numa época sem estradas, fizeram as trilhas enfrentando feras e bois bravos. Trouxeram a imagem da Santa, que é de madeira, e colocaram no altar da Capela. O caixão vazio, como prova do milagre, também foi colocado ao lado do altar à época, como gratidão a Nossa Senhora Aparecida.

LONGEVIDADE

O mais curioso é que Ananias Bueno ainda viveu mais 60 anos, tendo falecido na década de 1940, com 94 anos de idade. Mesmo vivo, Ananias ainda presenciou a vinda de romeiros da região até Muzambinho, para pedir ou agradecer graças recebidas.

O silêncio e a paz costumeira na Fazenda dá lugar, em 12 de outubro, a várias comemorações, começando com a procissão dos cavaleiros, missa e visita a imagem de Nossa Senhora, a Padroeira do Brasil.

MILAGRES

Assim como os vizinhos Célio, Tonhão e Paulo, milhares de outros católicos evidenciam a fé em Nossa Senhora, que continua fazendo milagres na vida de muita gente. “A imagem que está lá até hoje, pela crença da região, tem feito muitos milagres”, conta João Carlos, o bisneto. A Capela não é mais a mesma, tendo sido aumentada em 1911, quando já não comportava o movimento de romeiros.
Ananias Bueno é contado como um homem destemido, que ficou famoso na região após o ocorrido. Após o milagre, ainda teve mais oito filhos, tendo vivido em Muzambinho com sua numerosa família. “Naquele tempo, morreu, estava morto. Por isso, a volta à vida foi um milagre”, conta João Carlos, que ajuda a manter a Capela histórica.