Ao escolher o Clube da Esquina como tema de sua dissertação de mestrado, Luiz Henrique Garcia procurou não limitar seu escopo ao usualmente adotado pelos que se debruçam sobre a história da música brasileira. Tentando “abrir novas formas de trabalho”, ele pesquisou também capas de discos, encartes e fichas técnicas, além de utilizar colocações dos próprios integrantes do Clube da Esquina e de se valer de críticas e reportagens publicadas em jornais e revistas do período (1963 a 1979), como “Pasquim”, “Veja” e “IstoÉ”.

Sua tese é batizada de “Coisas Que Ficaram Muito Tempo Por Dizer: O Clube da Esquina Como Formação Cultural”. A dissertação é um registro do interesse particular pela cultura brasileira, tendo desenvolvido alguns projetos na área. Explica que sua opção pela tese é conseqüente da inexistência de literatura sobre o Clube da Esquina, exceto por obras isoladas, caso do livro do compositor Márcio Borges, “Os Sonhos Não Envelhecem”, de publicação recente — da mesma época em Milton Nascimento, principal ícone do Clube da Esquina, conquistou seu primeiro Grammy.

“Esse fato e outros contribuíram para despertar o interesse das pessoas no Clube da Esquina. Elas queriam saber mais sobre o assunto”. Não por outro motivo, publicar o resultado do trabalho foi um de seus objetivos.

Capa do álbum “Clube da Esquina”, lançado pela EMI-Odeon em 1972.
PESQUISAS

Entre as curiosidades apontadas, está o “tapa de luvas” aplicado na ditadura militar, com o lançamento do LP “Milagre dos Peixes”. Misto de protesto e provocação, a capa do disco traz os autores das letras, mas todas as faixas são instrumentais, aludindo à tentativa da censura de calar os compositores.

Outro ponto interessante da pesquisa é a inserção do Clube da Esquina no quadro da música popular brasileira. “Naquela época, havia espécie de polarização, evidenciada pela imprensa, que colocava de um lado o tropicalismo, e, de outro, as canções de protesto. “Procurei apontar que o Clube da Esquina passava ao lado, não se enquadrava em nenhuma das partes”, apesar de que alguns críticos tentassem, sem sucesso, arrolá-lo em alguma dessas vertentes. “É interessante notar que tanto Chico Buarque quanto Caetano Veloso trabalharam, em algum momento, com o Clube da Esquina, que agregava elementos de todas as tendências”.

PRODUÇÃO COMERCIAL

O pesquisador procura situar o Clube da Esquina também com relação à indústria da música, quando se ampliam os horizontes da produção comercial, mesmo que persistam conceitos mais artísticos. “Um artista como Milton Nascimento produziu, em uma década, mais de dez LPs de qualidade. Hoje, um músico que desenvolve trabalho mais elaborado leva de dois a três anos para produzir um álbum”, compara.

Além disso, as gravadoras da época respeitavam o conceito do “músico de prestígio”, aquele que estaria sempre chamando atenção no mercado, independentente de sua performance comercial. “Mesmo que um disco não fosse um estouro de vendas, sabia-se que 30, 40 anos depois, um álbum de artista do porte de Lô Borges seria procurado. Hoje, a lógica mercadológica mostra-se exacerbada no sentido do efêmero, do descartável”.

O historiador se indigna quando se lembra de que obras como o famoso “disco do tênis”, de Lô Borges, não foram lançadas em formato CD. “Trata-se de álbum fundamental, ousado, experimental, que não foi concebido com o propósito de tocar em rádio”.

UM PERÍODO DA HISTÓRIA DA MÚSICA MINEIRA

“Coisas Que Ficaram Muito Tempo Por Dizer: O Clube da Esquina Como Formação Cultural”, a dissertação, não encerra o interesse sobre este profícuo período da história da música em Minas Gerais, que revelou para o Brasil (e para o mundo) nomes como os de Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Wagner Tiso, Tavinho Moura, Murilo Antunes, Toninho Horta e Nivaldo Ornelas, além dos já citados Milton e Lô. Garcia também pesquisa a relação da música brasileira com a internacional, no mesmo período, tentando entender como se processou a assimilação de células da segunda pela primeira. O Clube da Esquina incorpora características dos Beatles, por exemplo. Um dos objetivos é “entender o quadro em que a nossa música se encontra”.

Quer se aprofundar e conhecer toda a história do Clube da Esquina? A dissertação completa, “Coisas Que Ficaram Muito Tempo Por Dizer: O Clube da Esquina Como Formação Cultural”, está NESTE LINK.

SAIBA MAIS

Documentário: História do Clube da Esquina – A MPB de Minas Gerais

 

 

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